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Como a dor acontece? Entenda sobre a complexidade da dor

Todo ser humano saudável já experimentou ou experimentará dor em algum momento da vida, certo? Mas, como será que a dor realmente acontece? A dor é algo extremamente complexo, e histórias muitas vezes ajudam a entender assuntos difíceis. Vou compartilhar duas para ilustrar isso. A primeira foi descrita em um breve relato de caso publicado na coluna Minerva, do BMJ. Os autores contam sobre um pedreiro de 29 anos que deu entrada em um pronto-socorro após cair sobre um prego de 15 cm, que atravessou sua bota. Ele relatava dor intensa a qualquer tentativa de retirar o prego. Precisou ser sedado e, ao retirarem a bota, veio a surpresa: o prego havia passado entre os dedos, sem causar nenhum ferimento. A segunda história vem de Henry Knowles Beecher (1904-1976), um médico militar que atuou na Segunda Guerra Mundial. Ele observou 225 soldados gravemente feridos no campo de batalha, com lesões como fraturas expostas e balas alojadas em órgãos vitais. Apesar da gravidade dos ferimentos, 75% dos soldados relataram pouca ou nenhuma dor. Como isso é possível? Nosso corpo possui receptores espalhados por todo o corpo e órgãos. Eles atuam como sensores, detectando estímulos nocivos ou potencialmente perigosos. Quando percebem uma ameaça, essa informação viaja através dos nervos até a medula espinhal e, em seguida, para o cérebro. O curioso é que não há uma área específica no cérebro responsável pelo processamento da dor. Em vez disso, várias áreas trabalham juntas para determinar se aquela sensação será percebida como dor ou não. Então, quais informações o cérebro utiliza para decidir isso? 1. Dimensão sensório-discriminativa: O cérebro precisa saber onde está a dor, sua intensidade e qual é a sensação (fisgada, queimação, choque, etc.). 2. Dimensão afetivo-motivacional: Como a dor afeta as emoções? A pessoa está ansiosa, com medo, deprimida? A dor causa frustração ou revolta? 3. Dimensão cognitivo-avaliativa: Aqui entram as experiências prévias, crenças e o conhecimento que a pessoa tem sobre dor. Muitos profissionais de saúde avaliam apenas o local da dor, a intensidade e as sensações. No entanto, isso pode limitar o sucesso do tratamento. Nas histórias que contei, vemos que, no primeiro caso, o pedreiro provavelmente teve uma grande percepção de ameaça à integridade do seu corpo, mesmo sem lesão real. Já no segundo, apesar de lesões graves, os soldados viviam a segurança de um hospital após o caos da guerra, o que pode ter influenciado sua percepção da dor. Não podemos separar o corpo da mente, ou pensar que dor é simplesmente o que aconteceu no tecido. Precisamos montar o quebra-cabeça da sua dor para entender o que realmente pode estar acontecendo. #dor #tratamentodador #neurofisiologiadador #dorcronica #dorcrônica #fisioterapia #fisioterapeuta