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Projeto Rosa da Palavra: A travessia do Liso do Sussuarão. Travessia # 11 21 de outubro de 2024.

Riobaldo, transtornado ao saber que seu padrinho Selorico Mendes era, de fato, seu pai, empreende uma fuga da fazenda São Gregório. Nunca mais chegou a encontrar-se com seu Selorico Mendes, de quem herdou, tempos depois, todo o patrimônio. Riobaldo foge de quê? Como Édipo, Riobaldo foge de si. Na peça Édipo Rei, de Sófocles, o protagonista vive no reino de Corinto (aliás, o Curralinho, lugarejo em que Riobaldo iniciou seus estudos escolares, torna-se anos depois o município de Corinto - em 1924), sendo educado para assumir o lugar de Políbio, o rei. O que ele não sabe é que seu pai verdadeiro é outro. Em ambas as narrativas, temos um pai oculto. Temos um protagonista transtornado pela revelação da paternidade - num caso, uma confirmação filial, em outro uma dúvida sobre a vinculação biológica. Em ambos os casos, a revelação gera um transtorno ("Afianço que, no escutar, em roda de mim o tonto houve — o mundo todo me desproduzia, numa grande desonra.") e esse transtorno, por sua vez, impele ambos a uma fuga marcada pelo impulso. Fuga dos seus destinos. Édipo, escandalizado com o vaticínio do oráculo, teme tornar-se parricida e incestuoso; Riobaldo, recusando a ser esse filho bastardo do fazendeiro rico. E quanto mais eles empreendem a fuga, tanto mais irão construindo as condições para realização destes destinos: tornarem-se reis em seus reinos.