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João Calvino e os desdobramentos da Reforma Protestante.

João Calvino e os desdobramentos da Reforma protestante A crítica luterana parece ser uma contraposição ao enraizamento social da igreja. Nesse ponto, parece que a Reforma traz consigo uma retomada do cristianismo primitivo, onde as comunidades se organizavam por si para implementação do evangelho. Esse sentimento resulta em longos conflitos políticos, ou seja, é debatida a ordem do poder temporal e religioso. Karlstadt (1480-1541), colega de Lutero na universidade de Witenberg, participa de tumultos em que incita a desobediência política. O movimento só foi contido pelo próprio Martinho, que era contra o que visa dar fim a ordem social. Todavia, ações contra os moldes que governavam este período continuam. Thomas Münzer (1489-1525) defende o rompimento dos valores mundanos para se instalar o reino de Deus. Disso surgiu o anabatismo (recusa ao batismo de crianças), libertando as pessoas de qualquer compromisso com a ordem existente. Além disso, Münzer defendia que ser contra os ricos e poderosos era um ato de um verdadeiro devoto do evangelho. O resultado desses movimentos foram as guerras camponesas de 1525, sediadas principalmente na Saxônia e na Turíngia. Os camponeses eram contra as hierarquias religiosas e os “senhores”. Porém, novamente Lutero interveio para o fim do movimento. Münzer defendia que “O povo só será livre quando Deus reinar sobre ele”, entretanto foi capturado e morto. A igreja protestante passa a se institucionalizar, atributo que ela criticava no catolicismo. Muitos senhores de grandes terras e poderes alemães adotaram a religião, isso dava seguridade para esse movimento. O desenvolvimento da Reforma será herdado por João Calvino (1509-1564). Ele leva às últimas consequências a perspectiva do servo-arbítrio de Lutero, elaborando a ideia da predestinação. Isso quer dizer, antes mesmo de nascer, a vida do homem já está programada, há um destino. Sendo assim, a liberdade é inútil, bem como o trabalho de religiosos para conversão. Somente os eleitos compreenderam as palavras bíblicas. Nessa abordagem, podemos observar que Calvino se opõe em partes ao próprio Lutero, pois, para ele, os sacramentos são inúteis. Além disso, João considera que a eucaristia é meramente simbólica. Essa defesa visa eliminar do campo religioso tudo aquilo que é magia e superstição. Há uma oposição até mesmo a mística, pois, para ele, Deus é absolutamente transcendente ao homem. Calvino estava situado na Suíça e lá terá muita influência. Ele é a base do surgimento do presbiterianismo, fundado por John Knox (1505-1572), na Escócia e de vários seguimentos puritanos na Inglaterra. Outro fato que Calvino irá moldar será a política, se para Lutero deveríamos obedecer ao poder, para Calvino a própria igreja deveria ser autoridade. O traço da intolerância será marcante em seu governo. Sua obra mais influente é A Instituição da Religião Cristã. A questão do trabalho no governo político-religioso de Calvino se torna uma atividade permanente que visa a glória de Deus. Trabalhar deve ser um ato metódico e sistemático. Isso influência o surgimento da igreja metodista de John Wesley (1703-1791), na Inglaterra. Disso outra questão surge: há os que trabalham e são bem-sucedidos e os que fazem o mesmo, mas não obtém sucesso. Para explicar esse acontecimento, Calvino dirá que o bem-sucedido dá indícios de ser um escolhido de Deus, pois em seu trabalho está a glorificação do absoluto. A abordagem de que o trabalho que obtiver sucesso é uma marca da eleição divina, fará com que a humanidade busque a riqueza em nome da glória de Deus. Isso leva ao capitalismo, como nos atenta Max Weber, na obra: “Ética protestante e o espírito do capitalismo”. Todos os trabalhadores se detinham arduamente as suas tarefas em nome da glória de Deus. Mesmo assim, havia uma distribuição desigual da riqueza, o motivo disso: providência divina, ordem incompreensível para o homem. Portanto, além da reformulação teológica, Calvino forma a noção de que a riqueza acumulada só pode ser empregada em prol do capital produtivo, já o trabalhador deve ser justo e resignado em sua condição. Eis o capitalismo.